Gralha Azul valoriza linguagens atuais
Favorito, Vida concentrou cinco dos 14 troféus em disputa, inclusive melhor espetáculo
Publicado em 18/12/2010 | Luciana RomagnolliEnquanto se discute os rumos do Troféu Gralha Azul, e se o modelo atual não estaria limitando a principal premiação paranaense a uma função menos relevante no cenário teatral, sem reconhecer outras linguagens além das estabelecidas décadas atrás, a 31.ª edição fugiu da lógica recente, ao menos em parte. Premiou com cinco estatuetas o espetáculo Vida, da Cia. Brasileira de Teatro, na cerimônia realizada no Guairinha, na última quarta-feira.
Escolhido melhor espetáculo do ano, Vida é extremamente atual tanto pela dramaturgia fragmentada, que se sustenta em diálogos imperfeitos em vez de apresentar uma história convencional, quanto pela encenação, que põe os atores em cena atendendo pelos próprios nomes. Causa algum estranhamento, mas do tipo que amplia as possibilidades do que o teatro pode ser, e sempre com a preocupação de estabelecer um encontro genuíno com o público.
A mais concorrida, a de melhor ator, premiou Ranieri Gonzalez. Ainda que fique difícil distinguir principais de coajuvantes na montagem, de fato Ranieri se destaca ao protagonizar um momento arrebatador – de vestido e salto alto, canta ao microfone um lamento sentido, diante da plateia que fica emudecia – e outro no qual se despe ao máximo das convenções dramáticas para apresentar casualmente as tatuagens que carrega no corpo. Como coadjuvante, o agraciado foi Rodrigo Ferrarini.
A premiação lembrou de dois outros espetáculos ao eleger as mulheres: a bailarina e atriz Juliana Adur, por Coração de Congelador – excluído da disputa a melhor espetáculo por muito pouco –, e Maureen Miranda, coadjuvante em Os Invisíveis.
Favoritismo
É cedo ainda, no entanto, para concluir que o Gralha Azul se abriu definitivamente às novas ideias. A concentração de prêmios em Vida confirma, antes, que o troféu não ignorou o favoritismo da montagem, já consagrada nacionalmente como destaque do Festival de Curitiba e com o Prêmio Bravo! de melhor espetáculo do ano. Será interessante acompanhar os resultados das próximas edições, sobretudo quando não houver um favorito tão evidente.
Por outro lado, a estatueta dada ao diretor Alexandre França como revelação, por Habitué, também destoa, em certa medida, de resultados das edições anteriores, por ousadias na maneira de tratar o tempo, o espaço, a luz e a presença da personagem de Maia Piva, espécie de consciência do protagonista.
Crianças
Entre os infantis, o Gralha Azul opunha principalmente Sobrevoar, da Cia. do Abração, e Lendas Japonesas, do Grupo Camelo. Este – uma história de contornos tradicionais sobre a mitologia nipônica, encenada com apuro visual e soluções simples que transportam para novos ambientes – ficou com os dois prêmios mais importantes: melhor espetáculo para crianças e direção, de Pretto.
Sobrevoar, indicada em cinco categorias, levou o Gralha Azul de melhor cenário. Assim como Metaformose – Reflexões de um Herói Que Não Quer Virar Pedra, do Grupo Delírio, que concorria a igual número de troféus, inclusive o de melhor espetáculo, saiu apenas com o de melhor iluminação, entregue a Beto Bruel.
Premiados
Nove espetáculos foram contemplados pelo 31º Traoféu Gralha Azul
Vida - Melhor espetáculo, direção (Marcio Abreu), texto original (Marcio Abreu), ator (Ranieri Gonzalez) e ator coadjuvante (Rodrigo Ferrarini). Troféu Epidauro concedido pelo Consulado da Grécia entre os espetáculos do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Lendas Japonesas - Melhor espetáculo para crianças, direção de espetáculo para crianças (Pretto).
Coração de Congelador - Atriz (Juliana Adur).
Os Invisíveis - Atriz coadjuvante (Maureen Miranda).
Metaformose – Reflexões de Um Herói Que Não Quer Virar Pedra - Iluminação (Beto Bruel).
M.M.M. – A Montanha do Meio do Mundo - Sonoplastia (Edith Camargo).
Mentira - Figurino (Paulo Vinícius).
Sobrevoar - Cenário (Marcelo Scalzo e Blas Torres).
Habitué - Revelação (Alexandre França: diretor).
Prêmio Especial - Manoel Kobachuk Filho.