Reportagem sobre "final do mês" no Jornal do Estado
Ainda no underground, graças à Deus
Em Final do Mês, a veterana atriz paranaense Claudete Pereira Jorge contracena pela primeira vez com a filha, Helena Portela
por Adriane PerinJonas Oliveira
Helena Portela, atriz; Alexandre França, autor e diretor e Claudete Pereira Jorge: o trio está em cartaz
Ela resistiu muito, mas não teve jeito. Claudete Pereira Jorge, uma das grandes atrizes paranaenses, com 35 anos de carreira, teve que dar o braço a torcer: sua filha, Helena Portela, leva mesmo jeito para estar no palco. É em uma sala de convenções do Hotel Del Rey que Claudete contracena com ela no espetáculo Final do Mês, escrito por Alexandre França, que também assina a direção, especialmente para a dupla, a pedido.
Claudete conta que sempre tentou impedir Helena, que tem 28 anos e algumas peças no currículo, de seguir seus passos. “Porque é difícil, não temos respaldo. Viver de teatro é ato de bravura, me sinto meio dom quixote, lutando sempre contra tudo - e lógico que não quero isso para ela. Mas, ela é muito boa, então vai fazer comigo e eu não vou facilitar pra ela. Ou faz muito bem feito, ou não faz”, garante a mãe-coruja. Helena tocou a vida dela, levando a mãe na manha. “Não brigávamos porque temos um relacionamento sui generis”, conta Claudete que um dia ouviu do próprio França que ela estava fazendo escada para Helena. “Uma boa escada, não resta dúvida, mas ela tá te engolindo”.
Essa é a montagem na qual ela cedeu aos esforços da filha. A idéia era criar algo facilmente adaptável até num corrredor ou sala de universidade. E assim foi feito, com duas cadeiras e um praticável de cenário. “O texto é encantador e esse menino é genial, escreve escandalosamente bem”, diz ela, que emenda mais elogios à nova geração. “Em especial ele e o Luis Felipe Leprevost. Escrever pra teatro exige uma, sei lá, uma arquitetura diferente. No França gosto dessa coisa atual e tão rica para um menino jovem demais”, comenta ela, que tem também projeto com Leprevost. “Nele, o que me atrai é uma coisa corajosa, que noto, arrojada. Esses dois acreditam no trabalho que fazem, não têm a timidez de colocar um ‘será’ na frente”.
Em sua trajetória, Claudete passou pela resistência da família e amigos que não entendiam como ela poderia seguir um caminho que era sinônimo de vagabundagem. “E essa visão ainda persiste, não se vê como trabalho. As pessoas dizem: Ah, você faz teatro, mas e trabalha com quê? Puxa, essa semana mesmo, filmei sábado a tarde, fui dormir de madrugada estudando texto e acordei às 5 da manhã pra filmar...”, relata.
Claudete não gosta de fazer televisão e diz que não sabe fazer. “Gosto de teatro e cinema. Um dia bato na porta do Almodóvar e se ele não me atender faço um escândalo”, solta, divertindo-se. Desde que veio de Ponta Grossa, aos 15 anos, já fez umas 60 peças, calcula. “Me tocaram de lá muito cedo. Minha casa é aqui”, diz ela, que decidiu pela carreira quando viu sua primeira peça. “Que bacana, pensei. Até então, eu queria cada dia uma coisa”. Se considera curitibana e escolheu não sair daqui. “Adoro São Paulo e Rio, mas volto logo correndo. Vou citar Leminski: ‘pinheiro não se replanta’”, diz a atriz, que acaba de voltar de uma temporada sob direção de Cacá Rosset, em Marido Vai à Caça.
Mas até ela precisa dar uma descansada do incessante decorar de textos. E decidiu mudar um pouco de arte. “To fazendo um colares. Fiz uns de ervas que são um escândalo. E não consigo mais largar. Se não gosto desmancho e faço de novo. O exercício de fazer de novo, tentar entender, isso é imprescindível pra que se faça um trabalho bem feito. E é o que faço no teatro”, ensina ela que, como disse Edson Bueno depois de assistir seu espetáculo anterior, “enquanto os atores de sua geração fazem comédia de costumes, segue no underground”. “Graças a deus”, responde ela.
Claudete conta que sempre tentou impedir Helena, que tem 28 anos e algumas peças no currículo, de seguir seus passos. “Porque é difícil, não temos respaldo. Viver de teatro é ato de bravura, me sinto meio dom quixote, lutando sempre contra tudo - e lógico que não quero isso para ela. Mas, ela é muito boa, então vai fazer comigo e eu não vou facilitar pra ela. Ou faz muito bem feito, ou não faz”, garante a mãe-coruja. Helena tocou a vida dela, levando a mãe na manha. “Não brigávamos porque temos um relacionamento sui generis”, conta Claudete que um dia ouviu do próprio França que ela estava fazendo escada para Helena. “Uma boa escada, não resta dúvida, mas ela tá te engolindo”.
Essa é a montagem na qual ela cedeu aos esforços da filha. A idéia era criar algo facilmente adaptável até num corrredor ou sala de universidade. E assim foi feito, com duas cadeiras e um praticável de cenário. “O texto é encantador e esse menino é genial, escreve escandalosamente bem”, diz ela, que emenda mais elogios à nova geração. “Em especial ele e o Luis Felipe Leprevost. Escrever pra teatro exige uma, sei lá, uma arquitetura diferente. No França gosto dessa coisa atual e tão rica para um menino jovem demais”, comenta ela, que tem também projeto com Leprevost. “Nele, o que me atrai é uma coisa corajosa, que noto, arrojada. Esses dois acreditam no trabalho que fazem, não têm a timidez de colocar um ‘será’ na frente”.
Em sua trajetória, Claudete passou pela resistência da família e amigos que não entendiam como ela poderia seguir um caminho que era sinônimo de vagabundagem. “E essa visão ainda persiste, não se vê como trabalho. As pessoas dizem: Ah, você faz teatro, mas e trabalha com quê? Puxa, essa semana mesmo, filmei sábado a tarde, fui dormir de madrugada estudando texto e acordei às 5 da manhã pra filmar...”, relata.
Claudete não gosta de fazer televisão e diz que não sabe fazer. “Gosto de teatro e cinema. Um dia bato na porta do Almodóvar e se ele não me atender faço um escândalo”, solta, divertindo-se. Desde que veio de Ponta Grossa, aos 15 anos, já fez umas 60 peças, calcula. “Me tocaram de lá muito cedo. Minha casa é aqui”, diz ela, que decidiu pela carreira quando viu sua primeira peça. “Que bacana, pensei. Até então, eu queria cada dia uma coisa”. Se considera curitibana e escolheu não sair daqui. “Adoro São Paulo e Rio, mas volto logo correndo. Vou citar Leminski: ‘pinheiro não se replanta’”, diz a atriz, que acaba de voltar de uma temporada sob direção de Cacá Rosset, em Marido Vai à Caça.
Mas até ela precisa dar uma descansada do incessante decorar de textos. E decidiu mudar um pouco de arte. “To fazendo um colares. Fiz uns de ervas que são um escândalo. E não consigo mais largar. Se não gosto desmancho e faço de novo. O exercício de fazer de novo, tentar entender, isso é imprescindível pra que se faça um trabalho bem feito. E é o que faço no teatro”, ensina ela que, como disse Edson Bueno depois de assistir seu espetáculo anterior, “enquanto os atores de sua geração fazem comédia de costumes, segue no underground”. “Graças a deus”, responde ela.