Final do Mês e Um Idiota de Presente, peças de Alexandre França, voltam ao cartaz, ambas no Mini-Guaíra
Publicado em 14/08/2008 Marcio Renato dos Santos
A chamada classe média, como se constata, sobretudo nesta era Lula, parece se desintegrar. Os bens de consumo (eletrodomésticos, eletroeletrônicos e outros), pelo que diz a propaganda governamental, estão mais ao alcance das classes mais baixas. Espremida, achatada, esfacelada e quase extinta, a chamada classe média sofre e talvez, um dia, não passe de ficção. E, misteriosamente, é por meio da ficção (e não de estatísticas oficiais) que essa faixa da população está sendo radiografada e traduzida.
A chamada classe média, como se constata, sobretudo nesta era Lula, parece se desintegrar. Os bens de consumo (eletrodomésticos, eletroeletrônicos e outros), pelo que diz a propaganda governamental, estão mais ao alcance das classes mais baixas. Espremida, achatada, esfacelada e quase extinta, a chamada classe média sofre e talvez, um dia, não passe de ficção. E, misteriosamente, é por meio da ficção (e não de estatísticas oficiais) que essa faixa da população está sendo radiografada e traduzida.
O curitibano Alexandre França, de 26 anos, parece um obcecado pela classe média. É o que se deduz a partir de sua produção. Em 2003, debutou como poeta com o livro Mata-Borrão, Batom e, em 2005, surgiu a sua segunda obra poética, Toda Mulher Merece Ser Despida. Em ambas realizações, há impasses da classe média. Em 2006, França surpreendeu com o álbum A Solidão não Mata, Dá a Idéia, em que canta, sobretudo, textos autorais a respeito de dilemas da dita classe média. Recentemente, ele se revelou, ainda, dramaturgo, por meio de duas peças, Final do Mês e Um Idiota de Presente, em que assina texto e direção, e que agora entram em nova temporada.
Final do Mês trata do esfacelamento da relação entre mãe e filha. "A situação financeira arruinada vai minar o relacionamento entre as duas", explica França. Curiosamente, as personagens mãe e filha são interpretadas, respectivamente, pelas atrizes Claudete Pereira Jorge e Helena Portela, mãe e filha na realidade. Claudete comenta que Final do Mês evidencia, ainda, a falta de perspectivas dos jovens contemporâneos. "Parece que eles (jovens) não têm para onde ir", diz.
A outra peça, Um Idiota de Presente, também traz personagens classe média, mas não foca em questões financeiras. Duas irmãs dialogam a partir de idéias de clássicos da literatura. A atriz Verônica Rodrigues, que interpreta a personagem Maria, conta o que está no centro deste texto de França: "A peça leva a refletir até que ponto argumentos livrescos, mal-interpretados, podem levar as pessoas a becos sem saída".
Jovem França
França, um poeta que canta e escreve peças para teatro, reconhece que a classe média é a sua obsessão. "A maioria dos textos que escrevo é sobre impasses de quem vive em apartamentos." Confrontos familiares são recorrentes. Ele conta que o público se identifica com o assunto. "Tem gente que vem falar comigo, depois das apresentações, dizendo que se viu retratado no palco".
Sobre a possibilidade de um possível boom da dramaturgia curitibana, França faz questão de colocar os pingos no "is". "Não existem tantos dramaturgos assim." Ele se diz contemplado pela sorte. "Foi oportuno ter amigas atrizes ao meu lado. Com textos prontos, para encenar foi um pulo." França, verborrágico, ávido por estar e entrar em cena (ele costuma declamar poemas em porões e botecos curitibanos), anuncia ter outros cinco textos de teatro "engavetados". "Ou melhor, estão na gaveta mas já estão 'engatilhados', prontos para serem encenados."
Serviço:
Final do Mês, de Alexandre França. Mini-Guaíra (R. Amintas de Barros, s/nº), (41) 3315-0979. Quinta à sábado, às 21 horas; domingo; às 19 horas. De 14 a 31 de agosto. R$ 20 (inteira), R$ 10 (meia).
Um Idiota de Presente, de Alexandre França. Mini-Guaíra (R. Amintas de Barros, s/nº), (41) 3315-0979. Sábado, às 19 horas; domingo, às 21 horas. De 16 a 31 de agosto. R$ 20 (inteira) e R$10 (meia).