23/03/2009
Galharufas 7
Claudete Pereira Jorge
A primeira vez que ouvi falar em galharufa foi com o ator paranaense
Sansores França. Na época fiquei curiosíssima para saber o que era a
tal da galharufa. Sansores me dizia que para ser uma verdadeira atriz
eu deveria receber uma galharufa, o que me deixou de cabelo em pé,
pois não tinha idéia do que era. A partir de um determinado ponto da
minha carreira, ele disse que eu já tinha adquirido a dita cuja.
Fui saber o que era de fato, quando recebi uma galharufa de verdade
do diretor Ademar Guerra, na peça Colônia Cecília, montada pelo TCP.
Ele, num certo momento dos ensaios, tirou todo o texto da minha
personagem para ver o que eu faria em cena. Ele me dizia
“vamos ver o que você é capaz de fazer sem esta sua voz”.
Recebi ainda uma outra do diretor Marcelo Marchioro, quando tirei a
rótula do lugar durante um espetáculo e tive que colocá-la de volta
no mesmo instante para continuá-lo, e de fato fui até o fim da peça.
Galharufa é um ritual de passagem de “você achar que é uma
atriz”, para “ser de fato uma atriz”. Você ganha uma galharufa
sempre que você se supera. Quando num instante decisivo,
você realmente “atua".
Às vezes a galharufa é encarada como um trote.
Certa vez, o Alexandre França fez uma série de leituras dramáticas
com textos seus. Inventei uma história de que um deles seria lido na língua
do P.
Minha filha Helena Portela ajudou com a galharufa, ensaiando o texto
na língua do P sempre que o França aparecia aqui em casa. Ele caiu direitinho.
Só foi descobrir na hora da apresentação que tudo se passava de uma
grande brincadeira.
Sempre levo o meu São Jorge e o meu Santo Expedito para o camarim.
Chego bem cedo ao teatro para me tranqüilizar.
Brinco com o elenco, com o pessoal da técnica. Faço uma oração,
fumo um cigarro e entro em cena.
Teatro da Caixa Cultural - Curitiba
Fringe