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sexta-feira, 4 de maio de 2012

Trecho da peça Saliva



Eu
Eu-agora
Eu-segundo
Eu-partícula
Ventania

Mulher-casa-filho

Ventania

Soma-soma-soma

Ventania

Um raio-agora
Eu-sozinho-agora

Partícula que entra pelo nariz-partícula e subtrai a célula do segundo-ontem

Você-minuto-raio-corte-cataclisma
Um soco-azul no céu frouxo das lamentações
Um eu-caído-nada-tudo

Tempestuosidade

Família-agora
Família-ontem
Partícula-nômade

As construções inabaláveis de uma rotina

Rotina-partícula
Que derruba insetos
Que derruba a fauna
Que derruba árvores
Que move planetas-partículas
No infinito grão do velho-cosmos-novo

Entender-desentender
No entrar do coisa-alguma
Dentro do casulo semovente
Da vida-incerto-inseto
No seio-seio da origem inexistente

Olhar-piscar
o movimento lento do nascimento
Partícula-vagina
Mastigando-vomitando
O ser que fala-cala pra platéia que escuta-esquece a boca-oca de tudo aquilo que não quer real

Partícula-realmente
No cérebro-mouco
Dos ouvintes dos ouvires dos oblivions-lumes
A lava
No estrangeiro gole
De saliva

Rasgo-pai rasgo-mãe
Na casa-revista-infância
Brinquedos e cores
Lápis-lasuli-sangue
Ferimento agulha e raiva

No instante-partícula
Aprendo a esquecer
No rapto-rato de memória
Da estalagem-sombra da raspagem-manha da contagem-estranha
De ponto-partículas

A conivência-convivência
Perpendicular aos momentâneos

Não há infância
Só a ância e a hiancia dos buracos sulcos marcas esquecidas desaparecidas apagadas
Com a mão branca
Do acaso

Ela
Ela-agora
Ela-segundo
Ela-partícula
Ela-elas
A deslizar pelas células enrugadas
do passado-sonho
do desejo meu

Se por ventura eu existar
No encontro impossível
Da partícula-livre com
A partícula-controle

Se me afogar na saliva-agora
do movimento estranho
Do impossível?

Onde posso parar?

Como a água que suga
O percurso reto
Da corrente-alguma
Ando tortuosamente


Sou o próximo estranho de mim